segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Testes em laboratórios: cruéis, desnecessários, perigosos



Muito se tem falado sobre os testes em laboratório, e mesmo assim esse tema ainda está longe de alcançar o consenso necessário para ser o passo definitivo - mesmo entre os vegetarianos e defensores dos animais.

É sabido, público e notório que não precisamos de carne para viver. Que não precisamos de zoológicos, rodeios, rinhas, corridas de animais... É muito fácil e cômodo se posicionar contra estas coisas. Nenhuma delas implica um sacrifício muito grande ou uma dúvida razoável.

Mas quando se trata da abolição definitiva de produtos de origem animal ou de boicotar os testes em laboratório a coisa muda de figura. Aí mesmo pessoas supostamente defensoras dos direitos dos animais recuam, tergiversam, relativizam. Existem dois problemas com essa postura. Uma referente à ignorância que permeia essas opiniões. Outra referente a uma ética pela metade - que se revela, portanto, como ética nenhuma.

Vamos primeiro à ética, porque este é o ponto primordial.

Quando se debate sobre os direitos fundamentais de indivíduo, são os direitos e necessidades desse indivíduo que devem ser levados em consideração. Pouco importa se a defesa desses direitos fundamentais poderá afetar negativamente os interesses de outro indivíduo. Por isso tantos abolicionistas insistem no paralelo entre a exploração animal e a escravidão humana: quando se debate os direitos dos animais cria-se uma suposta e arbitrária hierarquia em que os interesses mesquinhos, não essenciais de um ser humano estão acima dos interesses fundamentais de qualquer animal à vida, à liberdade, à integridade física e psíquica.

E fica claro, então, que a ética que rege nossas relações com os animais não é uma ética verdadeira, mas uma definição de critérios de como podemos explorar animais, sob que circunstâncias, e para que fins. E daí estabelece-se que aprisionar, torturar e matar animais é justo e necessário para salvar vidas humanas.

Essa postura é a miséria moral do ser humano. Não é eticamente justificável submeter animais à dor e sofrimento constante para extrair disso benefícios próprios - da mesma forma que não é eticamente justificável submeter outros seres humanos à dor e sofrimento para atingir o mesmo fim.

Quando em defesa dos testes, os vivisseccionistas costumam cair em contradição. Afirmam que é eticamente justificável pois esses animais não são como nós. Mas afirmam que os testes são seguros e úteis devido às semelhanças desses animais conosco.

É verdade, nós temos muitas semelhanças com os outros animais. Longe de justificar a validade da vivissecção, essa constatação expõe toda a sua imoralidade. Animais que são sensíveis, dotados de sentimentos, raciocínio, de interesses, capazes de sentir dor e prazer - como nós - não podem ser submetidos a tamanhas sevícias sem que haja uma doença profunda na humanidade, muito maior que aquela que pretendemos curar com tais testes - uma doença ética, moral, em que o ser humano, a despeito de ser dotado de reflexão, opta por ignorar o sofrimento que provoca em suas vítimas porque seu cálculo matemático, utilitarista, especista, afirma que é melhor matar alguns milhões de animais para, assim, preservar vidas humanas. Essa é a justificativa que apresentam. E muitos supostos defensores dos animais caem nessa armadilha.



A realidade é, porém, muito mais atroz do que esse suposto dilema moral entre matar uns para salvar outros. E é essa realidade que precisa ser debatida publicamente para enterrar os argumentos "altruístas" dos defensores dos testes em animais.

Em primeiro lugar, muitos dos testes que são feitos são arcaicos, ultrapassados, e apenas levados adiante porque são formas baratas de conseguir um certificado de "segurança" para um determinado produto.

Em segundo lugar, a "segurança" que se busca com esses testes não é a segurança do cidadão - ou "consumidor". É a segurança da empresa que comercializa aquele produto - sejam cosméticos ou medicamentos. Para atestar a "segurança" de um shampoo, por exemplo, coelhos são expostos ao composto até ficarem cegos - quando qualquer ser humano sabe que deve evitar o contato do shampoo com os olhos e, se acidentalmente isso acontecer, será por um período de poucos segundos, após o qual todos sabemos que devemos lavar os olhos com água em abundância. Com o conhecimento que acumulamos ao longo dos tempos não precisamos mais torturar animais para chegar a certas conclusões.

A partir daí muitas pessoas passam a concordar com a abolição dos testes de cosméticos e outros produtos supérfluos. Mas e os medicamentos? Eles não salvam vidas?

Aqui, há que se considerar primeiramente a enorme quantidade de erros que o modelo da experimentação animal produziu ao longo das décadas. A maioria dos medicamentos aprovados em testes com animais são posteriormente reprovados na fase de testes com seres humanos ou então recolhidos após breve período de comercialização.

Diversos profissionais das áreas médicas e biológicas sabem disso e concordam que o método da experimentação animal, além de cruel, é arcaico e mentiroso. Existem outros métodos para se produzir medicamentos seguros para o ser humano, mas estes não são adotados porque a experimentação animal é, antes de tudo, uma indústria. Um indústria que movimenta muito dinheiro, garante emprego e prestígio a cientistas, publicações em periódicos, além de renda para os criadores de animais e fabricantes de equipamentos.

E isso não é tudo. Tão importante quanto o negócio da vivissecção é o paradigma "científico" por trás do modelo animal. O paradigma dominante na medicina, da experimentação controlada, é do século XIX e já se mostrou obsoleto, no século XX, a partir dos avanços da física: hoje se sabe que a experimentação em laboratório JAMAIS será idêntica à observação do ambiente natural. Isso se chama interferência do pesquisador, que compromete a objetividade do estudo. Em outras palavras: um macaco enjaulado não se comporta da mesma forma que um macaco em liberdade. Mesmo médicos sabem disso, e basta verificar como o comportamento do próprio ser humano é diferente em sociedade ou numa prisão.

Inteligência e recursos são drenados em pesquisas marcadas por um paradigma obsoleto que leva a resultados enganosos. Assim, longe de garantir o "progresso da ciência", como afirmam seus defensores, a vivissecção se funda num atraso que continua se propagando ano após ano, década após década.

E também igualmente importante é questionarmos, afinal, a forma como temos tentado curar doenças por todo esse tempo. O ser humano vive, muitas vezes de forma imposta pelo estilo de vida contemporâneo, exposto a diversos fatores de insalubridade: má alimentação, drogas (legais ou ilícitas), poluição, estresse, insônia, depressão... Nem sempre é possível controlar o grau de exposição a estes fatores. Mas muitas vezes isso é possível. E a alimentação, por exemplo, é um fator decisivo no bom funcionamento do organismo. Depois de passar uma vida inteira explorando animais para se alimentar, o ser humano, envenenado pelas toxinas da carne, busca a solução para uma doença que poderia ter evitado através de um medicamento testado em outros animais. A natureza e os animais pagam o preço da nossa ignorância e arrogância.

E, logicamente, a indústria farmacêutica agradece. Ela vive da doença, não da saúde. Não é inteligente supor que seja do interesse dessas pessoas salvar vidas, curar doenças. E aqui fica claro que também a saúde humana é uma questão social, econômica e POLÍTICA. A vida insalubre que é promovida e imposta a nós é o fator primordial para manter a engrenagem do sistema... e ainda rende lucros através da busca de cura por meio de medicamentos. Antes o milagre vinha da fé. Agora temos a mesma fé cega nos milagres da ciência. E somos incapazes de supor que o mais inteligente é vivermos de modo a não depender de milagres: uma vida livre de toxinas, agrotóxicos, hormônios, drogas e produtos químicos em geral. Uma vida em que, respeitando a nós mesmos, nossos semelhantes e a natureza, poderemos ser mais felizes e plenos.

OBS: Existem várias fontes disponíveis atualmente para quem quiser aprender mais sobre a torpeza da vivissecção e formas éticas de se fazer ciência, tratar doenças, educar novos cientistas. Por favor, antes de afirmar impulsivamente que a vivissecção existe para salvar vidas humanas e o faz com eficiência, pesquise:

http://www.internichebrasil.org/ (Rede que promove a abolição do uso de animais na educação)

http://www.nutriveg.com.br/ (artigo sobre vivissecção)

http://www.fbav.org.br/ (Frente Brasileira Anti-Vivissecção)

http://www.sentiens.net/ (diversos artigos sobre vivisseção)

www.pea.org.br/crueldade/testes/index.htm Link para a lista das empresas que testam e as que não testam em animais. O boicote é nossa arma de luta, não faz sentido sermos contra essas atrocidades continuarmos financiando-as.

Recomendo ainda a leitura do livro recém-lançado "Ética e Experimentação Animal: Fundamentos Abolicionistas", da doutora em ética Sonia Felipe.

6 comentários:

Anônimo disse...

Bruno, confere a capa do Independent de hoje (4/1): http://www.independent.co.uk/multimedia/archive/00262/p1-040108_262193a.jpg

Anônimo disse...

Acredito sinceramente que exista o inferno, de que outra forma seres tão cruéis denominados "humanos" pagarão por seus atos,a extração do almíscar,o extermínio de florestas,a matança de baleias... são lastimáveis...

iarad disse...

Oi adorei o seu blog, visite o meu contra testes em animais, obrigado

Anônimo disse...

Eu, simplesmente não acho justo, penalizar animais por nossos problemas.A questão fundamental das experiências em animais, não são os resultados, mas a ética a injustiça e a crueldade inerente de submeter seres sensíveis á experiências dolorosas e letais e a obrigação moral dos profissionais da vivisssicção de buscar alternativas éticas de pesquisa.

Carla disse...

Bruno, descobri seu post no Google e digo sinceramente, gostaria muito de poder apertar sua mão pessoalmente e te parabenizar por tal abordagem. Sou contra testes em animais, mas confesso que nunca tive fontes dignas de confiança para poder argumentar e expor meu ponto de vista. E agora eu tenho. Já favoritei seu blog e pode ter certeza que vai ver meus comentários aqui sempre! É de pessoas como você que a humanidade precisa. Que têm opinião e coragem! Cara, PARABÉNS MESMO! Te desejo todo o sucesso do mundo, você merece.

PARABÉNS! =D

Bruno Müller disse...

Obrigado, Carla. É sempre bom saber que nosso trabalho tem um efeito positivo nas pessoas. Abraço.